|
quarta-feira, maio 27, 2009
A primeira vez que saí com você chovia aos cântaros. Eu quase não estava atrasada, só um pouquinho porque chovia muito e eu tinha medo de derrapar na pista e amassar o vestido e parecer afobada na hora da chegada. Quando você ligou eu me expliquei tentando não falar rápido demais, palavra por palavra, que era a chuva, não era desculpa, o mundo estava caindo naquele dia, você devia olhar pela janela, meu bem, olha a chuva, olha a chuva pela janela. Eu particularmente acho um charme marcar encontro em dia de chuva, acho que foi um filme, um filme nacional. Amores possíveis, já viu? Carolina Ferraz e Murilo Benício marcam um encontro no cinema num dia de muita, muita chuva, e ela não vai, e ele espera, e três histórias se desenrolam a partir daí, com três possibilidades do que poderia ter sido, do que não foi. É uma comediazinha romântica que me deixou de quatro e apaixonada por encontros em dias de chuva e pelas possibilidades, apesar de na prática odiar qualquer programa que não seja dentro de casa em dias de chuva, a chapinha meu bem, o cabelo arrepia. Mas o nosso, o nosso encontro não tinha qualquer possibilidade de dar errado no meio daquele temporal, nem com o cabelo arrepiado, vestido amassado, derrapando na pista. Alguns minutinhos de atraso, já tô chegando. E você levou um choque, pediu pra eu me atrasar ainda mais, que contava com o costumeiro atraso, ia entrar no banho, e eu inventei uma passadinha na casa da minha amiga sua vizinha, e esperei no posto de gasolina daquela avenida atrás do seu apartamento retocando batom, lendo Vejinha São Paulo e escolhendo uma nova opção para local do encontro, topo descoberto do Unique já era, como chovia, chovia muito em São Paulo, e eu fui te buscar no meio do pré-dilúvio com meu carro falhando a marcha, e acho que você tomava banho olhando a chuva pela janela com aqueles olhos pequenos que eu ainda não decifrava. Eu lia e retocava o batom e qualquer vestígio de olheira, porque os dias de chuva são péssimos para a pele e olheiras então nem se fale. Chovia tanto em São Paulo naquele dia e o tempo não passava, eu estava adiantada, adiantada pela primeira vez na vida, esperando no posto o telefone tocar, na cabeça Grace Jones cantando La vie en rose, na mão a Vejinha São Paulo, gloss pra retocar segundos antes da sua chegada. Daí você entrou no carro de jeans e camiseta vermelha e quase pisou na garrafa de saquê e queria saber porquê uma garrafa de saquê no chão do carro, sorrindo com o olho pequeno. Eu de Grace Jones na cabeça, a marcha falhando. Como chovia em São Paulo naquele dia, meu bem.
posted by Dedê Ranieri @ 12:27 AM
|
|
|