Nome: Dedê Ranieri
Lugar: São Bernardo, São Paulo, Brazil

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  • sexta-feira, agosto 04, 2006

    A pessoa é para o que nasce
    Meu primeiro teste de orientação vocacional aconteceu por acaso. Claro que só fui descobrir isso muito tempo depois, quando meus pais já tinham desembolsado alguns consideráveis Cruzados (Cz$!) para saber o óbvio: que eu era uma advogada de nascença. Não que eu fosse uma petiz chatinha ou rabugenta ou prolixa, nada disso. Foi um fato específico que revelou todo o meu talento para a advocacia, e isso quando eu tinha apenas onze anos de idade. Foi num final de ano letivo. O melhor ano letivo, diga-se de passagem, desde que eu começara a frequentar os bancos escolares. O ano em que estava e-n-a-m-o-r-a-d-í-s-s-i-m-a pelo menino mais bonito e popular do Colégio Metodista. E repetente também. Ele era o mais repetente do colégio, o que lhe conferia um charme ainda maior, e consequentemente aumentava a concorrência. Mas o fato de estar enamorada pelo disputadíssimo James Dean tupiniquim seria irrelevante para essa história, não fosse a notícia avassaladora da reciprocidade. Notícia que se espalhou durante os vinte minutos de recreio de uma sexta-feira, e deixou todos mais impávidos que Muhammad Ali. Por que ela? Era a pergunta que mais se ouvia entre as preteridas. Pergunta que meu otimismo desmedido nunca me permitiu fazer, mesmo ciente de que no implacável resultado oficial Quesito Beleza da 5ª Série C, eu tinha sido classificada no nível intermediário com nota 8,5 (resultado esse que sempre questionei em virtude do 0,5). Mas eu tinha sido a escolhida e ponto. E enquanto alguns tentavam encontrar a resposta, outros levantavam uma questão ainda mais importante. O beijo! Quando seria o beijo, aonde, selinho ou de língua? Porque um beijo nessa época só não dava mais ibope que briga na saída. Ou melhor, acho que dava empate. Foi então que decidi adiar o beijo, para decepção da platéia prestes a entrar de férias. Mas é claro que eu tinha outros planos, e o beijo não seria adiado para o ano seguinte. Montei então minha primeira estratégia radical, que alguns maldosos insistem até hoje em chamar de mentira deslavada. Disse para minha mãe que faltava saber o resultado da prova de geografia, o que era verdade. Apenas omiti o fato de que, independentemente da nota, eu já estava aprovada. Uma omissão inocente, que me permitiu frequentar a escola com o grupo da recuperação por mais alguns dias, grupo esse em que naturalmente se incluía meu pretê. Foi então numa agradável tarde de novembro, acompanhados de alguns amigos mais íntimos, que aconteceu o tão esperado enlace, debaixo de uma árvore gigantesca e histórica no trecho do campus entre a biblioteca e o Salão Nobre. Mas o que ninguém esperava era que o guarda da portaria também compartilhava de momento tão sublime, e que o carrasco levaria "preso" o casal protagonista de tão linda história de amor. E no encalço, por livre e espontânea curiosidade, toda a trupe que acompanhava a cerimônia. Eu me beliscava, e só conseguia ficar ainda mais roxa de tanta vergonha. Não era um pesadelo. Era pior. Ele queria o telefone da minha mãe. Ela teria que me buscar e ainda por cima assinar um documento. Na frente do meu par romântico. Dos meus amigos. As vozes se misturavam. O céu azul rodava. Os muy amigos vibravam. Era sem dúvida nenhuma melhor que qualquer briga na saída. Para eles, é claro. Mas quando tudo parecia perdido, e todos esperavam um desmaio ou no mínimo uma choradeira, pedi uma caneta e anotei no papel do guarda o que ele havia pedido: nome e telefone. Estiquei o braço confiante e o guarda discou. Pediu para que minha mãe viesse me buscar pessoalmente na portaria, senão teria que me despachar para a diretora. Em menos de meia-hora estacionava um monza cinza, de onde saiu uma morena de vinte e poucos anos, para quem eu corri de braços abertos e olhos fixos, dizendo baixinho: "Mamãe, mamãeee". Sem dizer palavra e me fuzilando com os olhos, minha irmã mais velha passou pisando duro entre o que já se tornara uma multidão de curiosos-maldosos-mirins, trocou umas palavras com o guarda, e praticou seu primeiro (e creio último) crime de falsidade ideológica em minha homenagem. Saiu me puxando pela camiseta do RPM em direção ao carro da empresa, onde um motorista loiro, que teria bem se passado pelo meu pai, nos esperava. Minha irmã foi o caminho inteiro em silêncio, mas manteve nosso pacto até o fim. E o fim foi a língua solta da minha prima-colega-de-classe-Alessandra que contou para minha tia Marli, que contou para Dona Olga, minha mãe original .... e aí foi um Deus-nos-acuda. O meu castigo foi algo que minha memória seletiva não permite lembrar. Mas mesmo assim valeu a pena, pois no ano seguinte fui recebida com status de celebridade no colégio. E anos mais tarde, ingressei na faculdade com a certeza da minha verdadeira vocação.

    posted by Dedê Ranieri @ 1:32 AM |


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