domingo, junho 25, 2006
...E ela disse “Não-meu-bem-essa-não-combina”, e empurrou o blusão azul royal com cara de uniforme de colégio. Ele resmungou qualquer coisa “Pensa-que-eu-sou-criança”, mas não contrariou. Na maioria das vezes, só de olhar para ela já sabia se era dia de contrariar ou não. E como aquele não era um dia favorável, deixou que escolhesse as calças e os sapatos também. Ela se encolheu num canto-campo-de-visão-dele, e choramingou. Tomado de uma paciência que nunca tivera lugar naquele apartamento, ele perguntou “O-que-desta-vez-benzinho”, que já tinha feito de tudo, só metrosexual não virava, e ela explicou num tom quase infantil que era o retrato da Danuza pintado por Di Cavalcanti. Ele prometeu um igualzinho. Assim que voltasse, mandaria pintar um só para ela. Mas o berreiro tomou conta do resto da frase, e ele, que ainda calçava os sapatos, correu para a porta, em tempo de ouvir entre-soluços “Você-sempre-mentindo-pra-mim”. Ficou atordoado. Era obrigado a saber que o pintor tinha morrido antes mesmo dela nascer?
posted by Dedê Ranieri @ 9:49 PM
|
|
|