“Ela não conseguiu entregar o James Joyce a tempo. Pensou em levar o Retrato do Artista Quando Jovem na mala, e depois comprar outro presente. Mas decidiu que aqueles dias, definitivamente, não seriam ocupados por clássicos da literatura, e enfiou na Louis Vuitton apenas o essencial para sobrevivência: sundown gold 4, biquíni e duas garrafas de prosecco. Ele tinha pressa, queria chegar logo na praia e mostrar o novo caminho de pedras que desembocava no mar. (...)
Pouco antes da meia-noite, ele a puxou pelas mãos à francesa, enquanto o grupo dispersava com seus ritos e supertições pré-virada. Ela o seguia em silêncio, pensando em Iemanjá e no efeito de pular as ondas uma outra hora. No corredor escuro ele exibiu as chaves, e ela sorriu pensando ‘o paraíso existe e é aqui’. Fogos de artifício pipocavam em descompasso e iluminavam o céu. Três minutos no horário de Brasília, suficientes para abrir a garrafa de rio grande, olhar do alto aquela imensidão do mar, e brindar da mais apaixonada e menos ortodoxa maneira.” |