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quinta-feira, dezembro 08, 2005
A blusa verde Saí cedo para o trabalho. Mais uma vez esqueci e peguei o caminho interditado com obras - maldito desvio. Quase todos os dias eu me esqueço e vou de peito aberto para as obras. Nessas horas eu me sinto o próprio Bill Murray em Feitiço do Tempo, o cara todo dia cai no mesmo buraco. Me consolei pensando que ao menos lembrei de jogar no porta-malas a mala de viagem com algumas roupas limpas. Com certeza iria me trocar para a palestra de tema tributário marcada para a noite. Eu realmente gostaria de ser uma daquelas pessoas que chegam ao final do dia com o mesmo perfume que saiu do banho, pela manhã. Pelo menos acredito que essas pessoas existam, ou então não tomam banho exatamente pela manhã, talvez no meio do dia, ou talvez (ainda) usem lenços umedecidos durante todo o dia, sei lá. O que eu quero dizer é que não sou uma dessas pessoas, e sempre quero tomar um banho ou pelo menos trocar de roupa antes do evento noturno, e que essa mania já me custou caro, como hoje por exemplo. Não consegui chegar mais cedo em casa a tempo do banho, e a única opção foi trocar de roupa. Mas o escritório estava superlotado, como de costume, e a troca de roupas ali desencadearia uma série de perguntas, especialmente sendo 96% do público do sexo feminino. Fato é que decidi fazer a troca enquanto dirigia. Não que isso tenha sido inédito, já me troquei um sem número de vezes com o carro em movimento, mas hoje, bem, hoje eu me enrolei numa manobra bem simples. Num semáforo em que eu era a última da fila, decidi que era o momento. Arranquei o twin-set branco e preto pela cabeça, e rapidamente saquei a blusa verde bandeira para vestir. Nesse momento, notei que uma senhorinha japonesa me observava da calçada, com cara de espanto. Ela olhava mais e mais para acreditar que a cena era real, que no Brasil existem pessoas que dirigem de soutien ao final do expediente, num dia assim nem tão quente. Enquanto eu pensava tudo isso e ficava sem graça, o farol abriu, carros emparelharam, e o espaço na minha frente ficou vago. Decidi acelerar pra não levar umas buzinas, totalmente curvada no banco, com uma mão segurando a blusa e a outra o volante. Não podia perder mais tempo, nem dirigir assim, seminua, então me concentrei, e em plena Vergueiro soltei as duas mãos do volante e enfiei num só golpe a blusa verde. No semáforo seguinte, enquanto passava corretivo e rímel nos olhos, o episódio já era uma lembrança distante. Mas cá entre nós, eu realmente gostaria de ser uma dessas pessoas que chegam ao final do dia com o mesmo perfume que saiu do banho, pela manhã, e que simplesmente dirigem até o seu destino sem tantos riscos de causar acidentes, e sem abalar valores culturais de outros povos, como do Oriente.
posted by Dedê Ranieri @ 1:04 AM
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