Nome: Dedê Ranieri
Lugar: São Bernardo, São Paulo, Brazil

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  • quarta-feira, outubro 06, 2010

    Texto produzido no módulo infanto-juvenil da pós-graduação mais legal do mundo: Prática de Criação Literária, na Editora Terracota (certificado pela Universidade Cruzeiro do Sul). Os módulos são individuais, portanto, corra, dá pra participar ainda e ser meu amiguinho de classe!

    Módulo IJ ministrado por um
    Maluf do bem: o Marcelo.


    Amarelo crepúsculo

    Eles chegaram na hora do Jornal Nacional, num jipe caindo aos pedaços.

    Meu avô que vivia com a cara colada na janela gritou “Os russos estão chegando! Viva la revolución!”. Mas ninguém deu bola.

    Primeiro porque era hora do Jornal Nacional.

    Segundo porque diziam lá em casa que meu avô sofria de uma doença que deixava a mente toda embaralhada. Então toda hora ele dizia alguma coisa que ninguém dava bola.

    Mas eu achava meu avô o avô mais engraçado do mundo. Por isso quando ele gritou aquelas coisas de russo e revolución eu corri sentar no colo dele e colei a cara na janela também.

    Foi então que vi dois crocodilos já entrando no nosso quintal. Um mais velho e outro mais moço.

    O velho usava uma boina verde meio de lado e tinha umas olheiras enormes - meu tio Zuca que faz faculdade de moda na Santa Marcelina diria “lindas bolsas em croco, total anos 40!”.
    O mais novo parecia bem animado e vestia uma camiseta branca com uma estampa assim , que depois meu avô traduziu pra mim: I love New York.

    Na hora que bateram na porta o vô Odilo já estava de pé – Ah, eu falei que meu avô se chamava Odilo? Parecia até que esperava visita.

    O crocodilo velho se apresentou com uma voz rouca, tipo voz de crocodilo que já fumou muito nessa vida: “Ernesto, mucho gusto”. Acho que foi só aí que meus pais desgrudaram o olho da tevê.

    O tal Ernestomuchogusto se desculpou pelo incômodo àquela hora. Minha mãe correu ajeitar a sala e meu pai que ainda não tinha se manifestado repreendeu meu avô, dizendo aonde já se viu deixar visita parada na porta.

    O crocodilo novo já tinha entrado sem cerimônia e repetia sem parar “un poquito de biscoitos, un poquito de biscoitos”.

    Minha mãe já ia buscando a lata quando meu pai decidiu “Fiquem para o jantar!”. E danou a falar sobre os malefícios do biscoito industrializado: gordura trans, corante amarelo crepúsculo, vermelho 40, carmin de cochonilha.

    Eu fiquei tão admirada que meu pai soubesse esses nomes bonitos de corante, que deu até vontade de comer os biscoitos maléficos.

    A essa altura meu avô parecia um agente da CIA de tanto que interrogava o crocodilo Ernesto. Queria saber do jipe modelo russo se era ano 91 quando parou de fabricar se vinham de longe se moravam em sobrado ou pântano... Até sobre a boina o vô Odilo perguntou.

    Instalado na poltrona da janela, ele contou que era um crocodilo-cubano exilado. Vivia pelo mundo em companhia do neto, “Siempre por la misión”. Mas parece que o croco-menino não tinha os mesmos ideais que o croco-vô. Sempre muito influenciado pelas “mídias e consumo”, dizia o tal Ernesto com cara de quem estava mesmo cansado. Aquela era sua última esperança.

    Foi isso que eu entendi quando ele encarou o vô Odilo. Esperança.

    “Un poquito de biscoitos, hãã?”. Deu um tapinha tipo camarada nas costas do meu avô. Vô Odilo ficou pensativo. “Un poquito de biscoitos...” repetia o crocodilo.

    E nada do vô Odilo.

    O tal do Ernesto foi ficando verde.

    O neto gritou que tinham errado de casa.

    Os dois pareciam desesperados.

    Minha mãe ofereceu água, mas saíram sem aceitar nem despedir, num atropelo só.

    Mais estranho que isso era o meu avô de tão quieto. Subiu as escadas e voltou com uma caixa.

    Foi tirando tudo. Parabólica. Charuto. Livro. Bússola. Granada. Barraca. Cantil. iPod. Tinha até um cd da Marina de La Riva.

    posted by Dedê Ranieri @ 5:35 PM |


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