Pagar mico não é prerrogativa minha. Ser distraída também não. Quem conhece o meu tio Nivaldo sabe do que estou falando. Aliás, tio Nivaldo ajuda a explicar muito das minhas origens.
Irmão mais velho do meu pai, tio Nivaldo mora no interior de São Paulo, é o baiano tipo gente boa (pleonasmo?), sempre disposto a ajudar as pessoas, seja com uma palavra seja colocando a mão na massa mesmo.
Mas como já dizia minha falecida avó, que de boas intenções o inferno está cheio, tio Nivaldo certamente tem grandes chances de já ter seu puxadinho reservado lá embaixo com aquele que me recuso a dizer o nome (cruzcredo!), tudo fruto de suas boas intenções.
Veja você.
Certa vez, quando eu ainda era criança, o vizinho do meu tio cometeu suicídio. Uma notícia trágica, mais ainda porque o vizinho tinha uma filha quase da minha idade, brincávamos juntas nas férias, o que na época me deixou ainda mais impressionada.
Logo que o incidente foi confirmado, apresentou-se um impasse na vizinhança: quem buscaria a menina na escola e contaria o motivo da saída repentina no meio da aula?
No corre-corre, meu tio Nivaldo apressou-se em ajudar, ficando decidido que ele buscaria a garota, mas não daria a triste notícia, isso ficaria a cargo da família.
Meus primos, que conhecem muito bem meu tio Nivaldo, desde que nasceram, não cansavam de recomendar ao pai que era apenas para buscar a menina, sem adiantar nada sobre o ocorrido. Repetiram muitas vezes, ao ponto de meu tio Nivaldo ficar irritado, perguntando, inclusive, se pensavam que ele era bobo.
Foi-se então meu tio, incumbido da tarefa de buscar a filha do vizinho morto.
No caminho, desconfiada, a garota perguntava o motivo daquela situação que nunca se dera antes. Mas meu tio contornava bem o assunto, dando respostas evasivas.
Quando chegaram em frente à casa de luto, meu tio Nivaldo, que cumprira sua missão de forma brilhante até aquele momento, ao despedir-se da menina exorbitou de sua função e disparou: "Meire, quantos anos seu pai tinha mesmo?".
posted by Dedê Ranieri @ 10:52 PM
|
|