Nome: Dedê Ranieri
Lugar: São Bernardo, São Paulo, Brazil

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  • segunda-feira, agosto 06, 2007

    Quando a irmã viajou às pressas, não pôde ir junto. Alguém precisava cuidar da casa e das crianças. Não estranhou que ficasse, tampouco desgostou. Não daquela vez. Na primeira noite, enquanto retirava a mesa, sentiu o olhar fixo às costas. Quando virou-se com os pratos, os olhos dele já não estavam lá, colados na cara avermelhada. Buracos ocos. Tinham grudado na nuca. A partir de então, sem que soubesse, seus olhos passaram a lhe pertencer. Aonde quer que fosse, nunca mais teria um só momento para si, quiçá um segredo. Mas, sentia-se à vontade como nunca se sentira antes, nem ali nem em lugar algum. Arriscaria dizer que dos olhos já não mais sentia medo, se assim soubesse dizer. No dia em que a irmã telefonou com a notícia de que ficaria mais alguns dias, que a saúde da mãe ainda inspirava cuidados, sentiu certo alívio, mas fingiu um quê de desespero. Botou a mão na testa e se contorceu no móvel, mesmo diante da sala vazia para a encenação. Naquela noite ele foi até seu quarto. Empurrou a porta com o pé e ficou parado em posição de sentinela em frente à cama, sem dizer palavra. Depois agachou-se ao lado do criado-mudo, e o movimento fez com que as articulações dos joelhos ressoassem no quarto em silêncio. Na cama o corpo fingiu sobressalto, resmungou qualquer coisa numa voz pastosa e esfregou os olhos com as duas mãos:
    - "Que foi?"
    - "Viu meus óculos?" - Junto com a frase o hálito de cachaça ou cerveja que só aparecia aos sábados, mas ainda era quarta-feira.
    Sentiu que era prenúncio de que algo estava por acontecer. Prenúncio, caso assim soubesse dizer. Não respondeu à pergunta, nem esboçou qualquer reação quando ele procurou espaço na caminha de solteiro. Deixou que liberasse quase todo peso do corpo em cima do seu. Os pêlos do tornozelo dele grudaram na colcha de chenile, que sacudida rolou para o chão. Como em toda sua vida, resignou-se. Mas pela primeira vez de um jeito que parecia ser bom. Já tinha feito aquilo antes, muitas vezes. Longe daqueles olhos que lhe metiam pavor. Contudo, naquela noite arriscaria dizer que não só dos olhos, mas dele todo já não sentia medo. Pela primeira vez sentiu um arrepio bom percorrer o corpo quando ele o puxou para si com força, e sussurrou dentro do ouvido a única palavra dirigida desde que fora morar ali:
    - "Mariquinhas...".

    posted by Dedê Ranieri @ 12:33 AM |


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