Nome: Dedê Ranieri
Lugar: São Bernardo, São Paulo, Brazil

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  • terça-feira, maio 15, 2007

    Segundos pra começar a responder, quiçá minuto

    Ninguém entendia como ela podia ser feliz daquele jeito. Ninguém entendia como alguém podia ser feliz daquele jeito. Alguns comentavam que era tipo, só podia. Ou aplicação de botox que congelou o riso. Como podia alguém andar exibindo aquele sorriso, e negar na maior cara-dura créditos ao prozac, valium, o que o valha? Chegava a ser falta de respeito. Alguma (má) intenção de ser candidata a cargo eletivo, decretavam. Os mesmos que diziam não votar nela na certa, na hipótese de. E dá pra confiar em alguém que está sempre sorrindo, sabe-se lá sob que efeito, cochichavam entre risinhos de retribuição. Melhor não contrariar -médicos sempre dizem- e sorrir de volta pra ela. Não se deve confiar em quem não revela o uso de botox, prozac, valium, o que o valha. Outro fato que intrigava era quando perguntada sobre como andavam as coisas. Ela demorava muitos segundos pra começar a responder, quiçá minuto. São os remédios, concluíam satisfeitos. Perda de memória recente. Albinismo mental. Meu sobrinho é médico especialista em ... Mas o que ninguém sabia era do truque. Truque. Ritual. Lista. O que o valha. Quando perguntada sobre como andavam as coisas, ela listava mentalmente umas sete ou oito que poderiam ter estragado seu dia: multa de trânsito às sete na esquina de casa, meia-hora pra ser atendida na telefônica, manicure que quase lhe deu uma surra quando recusou a florzinha com glitter nas unhas, não ter lembrado o nome daquele filme que ela amava quando ele disse que amava aquele filme, vendedora garantindo que depois de algumas lavagens a peça de roupa iria lacear, vendedora garantindo que depois de algumas lavagens a peça iria encolher, telefonema do ex-namorado bêbado na madrugada, pernilongo voando perto da orelha na madrugada... Pra depois recomeçar o truque ao contrário, e então desfilar uma lista quase sem fim daquelas coisas que, quase tinha vergonha de contar de simples que eram, davam uma sensação boa de felicidade. Então por trás do riso congelado que ninguém entendia -a espera- ela organizava num método de organização própria, nuns compartimentos secretos da alma, o barulhinho da água escorrendo pelo ralo quando desligava o chuveiro, a notícia dada à queima-roupa de que aquela pessoa que gostava tanto sabia cantar a sua música predileta e tocar no violão e tinha os mesmos vícios, cozinha japonesa-brigadeiro de colher-roer unhas, o pote de sorvete macadâmia dividido na tarde de um domingo chuvoso, o pote de sorvete que devorou sozinha na tarde de um domingo chuvoso, o pedaço mais gostoso de pizza que encontrou no microondas quando chegou de madrugada, a cara que ele fez quando ela disse "entra no carro e não pergunta que é surpresa", da própria cara quando ele disse "entra no carro e não pergunta que é surpresa", o dia em que marcou um cinema e esperou a sessão na platéia do show do Jair Rodrigues, sem saber que ia ter show, o Jair Rodrigues cantando Rosa do Pixinguinha no show, o show que era de graça, o almoço com a amiga querida no jardim da Dona Cleide naquela casa que não tinha placa de restaurante, a limonada que veio na jarra, o caminho que acertou de primeira, o caminho que errou várias vezes e só assim descobriu aquela loja de sapatos e o tiozinho simpático que vendia meias por ótimo preço e sabia o nome de todas as ruas, a cara feliz dos seres amados congelada na fotografia amassada na carteira, porta-luvas do carro, memória ... Quando percebia a lista sem fim, lembrava da espera: tudo maravilha! ... e o sorriso sabe-se há quanto tempo lá estampado, o corpo todo sorrindo. Tudo maravilha ... E dá pra confiar em alguém que está sempre sorrindo, e demora tanto tempo pra responder "tudo maravilha!"? Melhor não contrariar e sorrir de volta pra ela. É o que dizem os especialistas. Não se deve confiar em quem vive sorrindo e tudo maravilha às custas de botox, prozac, valium. O que o valha!

    posted by Dedê Ranieri @ 1:53 AM |


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