Cores de Almodóvar

Ela é linda do tipo mignon, tem cabelos pretos bem lisos quase até a cintura, e faz dança do ventre. Nas horas vagas, chora. Ela é mimada, estridente, e tem uma tatuagem no cóccix (que adora exibir depois da segunda smirnoff ice). Ela terminou a pós, estuda inglês, francês, e nas horas vagas passa em frente à academia do ex-namorado. E chora. Ela tem um cachorro (não me lembro marca nem modelo) que a chama de mamãe, uma calopsita novinha em folha, e uma variada fauna de fãs-bípedes. Mora num lindo apartamento com piscina no centro da cidade, ganhou do pai um carro preto de uma charmosa marca francesa, e um kit maquiagem definitiva para os olhos (pois não borra quando chora). Ela surge, como que caída do teto, entre mesas de praças de alimentação, aonde quer que se alimente seu ex-namorado. Ela é gata em teto de zinco quente, que não mia. Chora. Ela dá entrevistas na rádio local sobre zoonoses, e salva bichinhos diariamente no exercício de sua profissão de veterinária. Ela já se prontificou a fazer uma tala no meu dedinho semi-quebrado-não-cuidado, e mesmo sabendo que ela pode usar isso contra mim um dia, eu disse vai em frente. Ela tem um nome, é claro. E ela lê este blog. Mas vou chamá-la de Lily, pois como na história de Lily Braun, o homem dos seus sonhos apareceu num dancing, e num relance ela foi chupada feito um zoom, e engolida por seus olhos de comer fotografia. E porque ela chora quando ele diz nunca mais romance. Mas eu não canso de dizer a ela que o final da sua história pode ser diferente da Lily-canção. Que de olhos embaçados fica difícil ver todas as coisas legais que estão em volta. E quando eu já estava quase desistindo, reparei que de close em close, ela vem recuperando a pose. E se preparando para uma nova turnê.